O burnout foi considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na 11.ª revisão da lista internacional de classificação de doenças (ICD-11), como uma doença resultante de fatores laborais identificada pelos seguintes sintomas:

  • Exaustão física e/ou emocional;
  • Alienação – falta de reconhecimento do próprio e/ou distanciamento, negativismo e cinismo sobre o trabalho;
  • Perda de eficácia laboral.

O que não se menciona quando se fala de burnout é que é apenas a ponta do iceberg no tema da saúde mental. O burnout chega de forma silenciosa, sendo que os seus avisos são confundidos com cansaço ou noites mal dormidas. Até que um dia, as pernas deixam de responder aos pedidos do nosso cérebro, o cansaço é tão extremo que o corpo só pede para dormir e a nossa capacidade de foco fica reduzida ao foco de uma criança de três anos. Partilho os sintomas, não somente porque os investiguei ou estudei, mas porque os vivi em 2022.

Quando não tratado, leva a problemas de saúde física e mental no geral mais graves, ou seja, a consequência do burnout não fica por um episódio único com as suas consequências laborais. Pode ser tratado, mas se não for tratado e com transformações comportamentais, torna-se recorrente.

O meu objetivo não é ser alarmista, mas sim mostrar um pouco a realidade das consequências inerentes a um burnout e do que faz na vida das pessoas, sejam estas universitárias ou colaboradores de start-ups, PME’s, governo ou multinacionais.

Os números portugueses falam por si. De acordo com um estudo realizado pelo Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho, cerca de 80% dos profissionais em Portugal apresentam, pelo menos, um sintoma de burnout e metade já têm cumulativamente os três sintomas.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses mostra também num relatório recente que o absentismo custou 1,8 mil milhões de euros em 2022 às empresas em Portugal. Já o presentismo (quando os trabalhadores vão para o seu local de emprego, mas funcionam abaixo das suas capacidades) teve um custo de 3,5 mil milhões de euros, registando-se assim uma perda total de produtividade de 5,3 mil milhões por ano (o equivalente ao que o governo português gastou em 2021 em medidas para mitigar os impactos da pandemia COVID-19).

Mas estes números não estão sozinhos. 50% da força laboral mundial teve ou está na iminência de ter um burnout. De acordo com a Statisca, estamos a falar de 1,645 biliões de pessoas, ou seja, é mais do que a China inteira.

Além disto, um estudo recente liderado pela OMS estima que a depressão e os distúrbios de ansiedade custam à economia global um trilião de dólares por ano em perda de produtividade.

Os números são mesmo significativos e o pior é que as novas gerações de trabalhadores têm os seus níveis de burnout a aumentar significativamente, como comprovam vários estudos, dado que muitos saem da faculdade com níveis de ansiedade e stress já elevados.

Durante o meu processo de entrevistas para perceber o problema, falei com pessoas que tiveram burnouts recorrentes durante cinco anos, dois anos, alguns que resultaram em depressões e outros que decidiram mesmo mudar de trabalhos e carreira.

Quando me apercebi da dimensão do problema, decidi focar as minhas skills e know-how em criar uma solução no digital que permitisse que o máximo número de pessoas não passasse pelo que passei, pelo que milhões estavam a passar e as que fossem passar pudessem ter uma luz ao fundo do túnel, onde jornadas semelhantes pudessem ser partilhadas, metodologias e ferramentas interiorizadas para mudar o comportamento das pessoas e desta forma garantir vidas mais sustentáveis. E assim decidi criar a mindout.

Portugal e o Mundo estão a passar por um período de transformação, de uma imensidão de fatores de stress, depressão e ansiedade, que tornam uma vida sustentável mais difícil e com consequências difíceis de inverter.

É essencial, que cada um de nós perceba que é importante olhar para dentro, perceber como estamos, e tal como fazemos com a nossa saúde física, garantir que a mental também é monitorizada, nutrida e cuidada. Se não o fizermos, dificilmente conseguiremos acompanhar o “fast-paced” com tudo o que se vive hoje.

Cristina Fraga é fundadora e CEO da Mindout